Preços de Ações
Este artigo visa alertar o investidor sobre os perigos de se comprar uma ação porque o preço "só sobe". Não é uma recomendação de compra ou venda. O intuito aqui é meramente educativo.
Lembrando que a melhor prática de investimento é adquirir uma empresa "boa" e "barata" com o objetivo principal de receber renda através de dividendos. Dividendo é o "dinheiro real", "dinheiro novo", que é produto de uma geração de valor e que "cai" na sua conta corrente. Investir na mera valorização do preço da ação se torna uma aposta no sentido que você está "torcendo" para que outro participante do mercado, por alguma razão, pague mais caro ainda pelo que você já pagou. De nada adianta, a cotação de uma ação subir se você não a vende. Claro que você pode vender uma ação cujo o preço se tornou "irreal" e, com o dinheiro recebido desta venda, adquirir uma outra empresa em um nível mais "justo". Mas, isso seria "obra do acaso", um "presente" que o mercado lhe deu "meio que sem querer".
Dito isto, seguem dois exemplos de empresas que, após uma certa data, o preço destoou do seu ritmo de crescimento e o da própria empresa também. Nos dois exemplos, a seta vermelha de baixo acompanha as linhas dos fundamentos (tais como patrimônio líquido, receita líquida, lucro líquido e dívida líquida) e a seta vermelha de cima acompanha a linha azul do preço.
Para termos uma ideia do que possa acontecer com essa situação, segue um caso que ocorreu com a Ambev a alguns anos atrás. Os preços acompanhavam bem os fundamentos até 2010. A partir de 2011, o preço "quebrou" o ritmo para cima por qualquer razão (ótima gestão dos controladores, crença de que a empresa cresceria muito mais rápido que o de costume, etc). Verdade que o preço continuou crescendo até 2017. Mas, desse mesmo ano até 2020, o preço só "corrigiu" (desceu).
A questão aqui é que, no período que o preço estava "irreal", o investidor recebeu dividendos baixos (em torno de 3% a.a. em uma época de taxa de juros maiores) e, se não vendeu suas ações, a valorização das mesmas de nada adiantou. E, os fundamentos parecem evoluir no mesmo ritmo de sempre, nada de novo ou surpreendente aconteceu de fato com eles.
Outro ponto importante, é que existe um outro risco implícito se você fez aportes durante esses períodos de preços "caros". Voltando ao exemplo da Magazine Luiza, a linha vermelha tracejada é um exemplo do que pode ocorrer caso a cotação da ação corrija rápido (aliás, cabe aqui um comentário que se o preço corrigir "rápido" seria algo bom para a empresa e para o investidor também) e as linhas vermelhas contínuas são cada aporte de preço que sofreram variação de preço conforme o último preço da ação.
Veja o prejuízo acumulado de todos os aportes que surge com o novo último preço da cotação da ação. Claro que da mesma forma que a subida do preço não é lucro, a queda do mesmo também não é prejuízo. Só que aqui temos um prejuízo real no sentido que esses aportes representam dividendos baixos e isso não tem mais como mudar (a não ser que o preço volte a subir e você consiga vender bem a ação, mas aí voltamos para a questão da "pura aposta").
Ainda no caso da Magazine, o mais impressionante é que, neste ano de 2020, os dividendos recebidos estão em torno de insignificantes 0,5% a.a. (bem pior do que ocorreu com o exemplo da Ambev). O P/L (preço por lucro) está em torno de 160. Ou seja, se a empresa parar de crescer e se todo lucro for convertido em dividendo, você irá demorar 160 anos para receber todo o dinheiro aportado hoje de volta. Claro que nos últimos anos, ela cresceu impressionantes 36,7% a.a. Mas, mesmo que apliquemos essa taxa de crescimento (provavelmente não se repetirá) e novamente se todo o lucro se tornar dividendos (provavelmente não ocorrerá), levarão 17 anos para se ter o retorno do investimento do que se pagou hoje. Melhor que 160 anos, mas mesmo assim, temos exemplos de mais de uma empresa "boa" e "barata" que essa mesma taxa fica em torno de 8 anos de retorno e sem o risco de uma grande queda de preços contínua (não há problema nenhum em uma queda de preços; aliás, elas costumam ser boas oportunidades; o problema está numa grande queda e permanente porque o preço recém voltou ao seu valor mais "justo" de acordo com os próprios fundamentos da empresa). Muito parecido ocorre com a Weg (não cabe aqui repetir as mesmas informações e cálculos para não nos estendermos) e, em menor distorção, em mais algumas outras empresas listadas em bolsa, é claro.
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